Em 2001, a Globo promoveu uma busca nacional no Domingão do Faustão por um dublê para Murilo Benício na novela ‘O Clone’, mas o resultado inusitado transformou a iniciativa em motivo de bastidor e exigiu ainda mais do protagonista.
Em 2001, a TV Globo, em uma iniciativa pouco convencional para a época, organizou um concurso no popular programa Domingão do Faustão com o objetivo de encontrar um sósia para o ator Murilo Benício. A meta era auxiliar na complexa interpretação dos múltiplos papéis de Lucas, Diogo e Léo na aguardada novela “O Clone”, de Glória Perez. No entanto, o desfecho surpreendeu: o vencedor, o advogado Rafael Mariano, não apresentava a semelhança física esperada, transformando a busca em um episódio que, nos bastidores, foi considerado uma piada e forçou Benício a assumir integralmente os desafiadores personagens, contando com o apoio de técnicas avançadas de maquiagem e efeitos visuais.
Contexto
A virada do milênio trouxe para a teledramaturgia brasileira a promessa de inovações narrativas com “O Clone”. A novela de Glória Perez, dirigida por Jayme Monjardim, abordava temas como clonagem humana, cultura islâmica e paixões intensas, conquistando rapidamente a atenção do público. Um dos grandes desafios da produção era a atuação de Murilo Benício, escalado para dar vida não apenas aos irmãos gêmeos Lucas e Diogo, mas também ao clone Léo, uma complexidade que demandava grande versatilidade do ator e soluções criativas da equipe de produção.
Foi nesse cenário de grandes expectativas e complexidade técnica que a TV Globo decidiu buscar um reforço. A ideia, amplamente divulgada na imprensa da época – incluindo veículos como a Folha de S.Paulo e a revista Istoé Gente –, era que um sósia pudesse servir como dublê em cenas específicas. Essa estratégia visava facilitar as gravações, especialmente aquelas que exigiriam a interação simultânea dos personagens interpretados por Benício, minimizando os desafios de gravação com tela dividida ou chroma key, técnicas que, embora já existentes, ainda demandavam tempo e recursos consideráveis.
O palco escolhido para essa inusitada seleção foi o Domingão do Faustão, um dos programas de maior audiência da televisão brasileira. A iniciativa gerou grande repercussão, atraindo centenas de candidatos de todo o país que sonhavam em participar da novela e, quem sabe, até mesmo seguir uma carreira artística. A promessa era de que o vencedor teria a chance de trabalhar ao lado de um dos principais galãs da emissora, em uma produção que já se desenhava como um marco na história da teledramaturgia.
A Busca pelo Dublê Perfeito
O processo de seleção no programa dominical foi acompanhado com curiosidade pelo público. Candidatos com as mais diversas aparências e talentos buscaram convencer os jurados de sua semelhança com Murilo Benício. A expectativa era alta, tanto para a produção da novela quanto para os telespectadores, que viam na busca uma divertida interrupção na rotina dominical. Contudo, a culminação desse processo revelou um desencontro de expectativas que se tornaria um episódio notório nos bastidores da emissora.
Após semanas de busca e eliminatórias, o advogado Rafael Mariano foi anunciado como o grande vencedor do concurso. Ele foi eleito o sósia oficial de Murilo Benício, gerando a expectativa de que ele auxiliaria o ator na novela. A notícia foi veiculada em diversos meios de comunicação, preparando o público para a inovação que viria. No entanto, o que se seguiu não foi a integração de Mariano às gravações como esperado, mas sim uma reviravolta.
Impactos da Decisão
Apesar de Rafael Mariano ter sido eleito o sósia, a realidade dos estúdios da Globo se impôs. Os testes de maquiagem e caracterização, essenciais para a verossimilhança dos personagens, revelaram que a semelhança de Mariano com Murilo Benício não era suficiente para a complexidade exigida pela novela. Conforme relatos de bastidores e matérias da época, a decisão de não utilizá-lo foi tomada pela direção da trama, que avaliou a inconsistência visual como um risco grande demais para a credibilidade de uma novela que apostava na ficção científica.
A frustração inicial rapidamente deu lugar a uma solução criativa, porém exigente: Murilo Benício assumiria integralmente os três papéis, com o auxílio intensivo de maquiagem especializada e de técnicas de computação gráfica da época. Isso significava uma carga de trabalho consideravelmente maior para o ator, que precisava alternar entre as caracterizações de Lucas, Diogo e Léo, muitas vezes em um mesmo dia de gravação. A decisão, embora impulsionada por um contratempo, acabou por evidenciar a dedicação e o talento de Benício, que entregou uma performance memorável.
O episódio do concurso e a não utilização do sósia se tornaram um caso emblemático de como a realidade da produção televisiva pode ser implacável, mesmo para ideias que parecem promissoras. A busca por um sósia, que começou como uma solução prática e um atrativo para o público, terminou por reforçar a capacidade da equipe em contornar obstáculos e a habilidade do elenco em se adaptar a demandas excepcionais. A história, embora um tanto quanto engraçada e motivo de piada nos corredores da emissora, destacou a resiliência da produção de “O Clone”.
Desafios Técnicos Superados
A ausência de um dublê viável impôs à equipe técnica da novela a tarefa de aprimorar o uso de efeitos visuais e maquiagem para criar a ilusão dos múltiplos personagens de Murilo Benício interagindo. Isso envolveu técnicas como a tela dividida, onde o ator gravava as cenas com cada personagem separadamente, e depois as imagens eram combinadas digitalmente. A maquiagem precisa e o figurino meticuloso foram cruciais para diferenciar Lucas, Diogo e Léo, garantindo que o público pudesse identificar claramente cada um, mesmo sem a ajuda de um segundo ator com características físicas semelhantes.
A exigência sobre Benício foi imensa. Ele precisou desenvolver nuances distintas para cada um dos irmãos e o clone, não apenas na aparência, mas também na voz, nos trejeitos e na postura. Essa complexidade de interpretação, somada às longas horas de caracterização e gravação, transformou o papel em um dos mais desafiadores de sua carreira e, sem dúvida, em um dos mais elogiados pela crítica e pelo público. A novela se tornou um sucesso estrondoso, comprovando que a superação dos desafios internos resultou em um produto final de alta qualidade.
O caso serviu de aprendizado para futuras produções da Globo, reforçando a importância de um planejamento detalhado e de testes rigorosos antes de apostar em soluções que dependem de fatores externos e imprevisíveis, como a semelhança física de um indivíduo com um ator. A história do sósia que não foi, de certa forma, contribuiu para a lenda de “O Clone”, mostrando os bastidores de uma produção grandiosa e seus percalços.
Próximos Passos e o Legado de um Episódio Inusitado
A decisão de Murilo Benício em abraçar por completo os múltiplos papéis de Lucas, Diogo e Léo, após o concurso de sósias não ter o resultado esperado, solidificou não apenas sua reputação como um ator de grande calibre, mas também adicionou uma camada de lenda aos bastidores de “O Clone”. O episódio, que poderia ter sido um revés significativo, tornou-se parte da mitologia da novela, amplamente lembrado e revisitado em retrospectivas sobre a história da televisão brasileira. Essa capacidade de adaptação e a superação dos desafios iniciais foram cruciais para o sucesso estrondoso da trama, que transcendeu fronteiras e se tornou um fenômeno global.
Hoje, “O Clone” continua relevante, com sua reprise e disponibilização no Globoplay, a plataforma de streaming da Globo, alcançando novas gerações de espectadores e reacendendo a nostalgia naqueles que acompanharam a trama em 2001. A história do sósia frustrado é frequentemente citada em artigos e reportagens que exploram os segredos e as curiosidades por trás das grandes produções televisivas, servindo como um exemplo de como a criatividade e a resiliência podem transformar obstáculos em oportunidades para o aprimoramento artístico e técnico.
O desenvolvimento tecnológico, especialmente nas últimas duas décadas, trouxe avanços significativos para a indústria audiovisual. Técnicas de computação gráfica (CGI) e de inteligência artificial (IA) hoje oferecem soluções muito mais sofisticadas e realistas para a criação de múltiplos personagens ou dublês digitais, minimizando a necessidade de concursos físicos ou de depender exclusivamente da semelhança humana. Contudo, o caso de “O Clone” permanece como um lembrete vívido da era pré-digital mais robusta, onde a engenhosidade humana e o talento do elenco eram os principais recursos para concretizar visões ambiciosas.
A Relevância da Memória Televisiva
Eventos como o concurso de sósias de Murilo Benício em 2001 reforçam a importância da memória televisiva e da preservação dessas histórias de bastidores. Elas não apenas entretêm, mas também informam sobre os processos de criação, as dificuldades enfrentadas e as soluções encontradas na produção de conteúdo que marcou gerações. A capacidade de um ator de dar vida a três personagens complexos com a ajuda de maquiagem e efeitos visuais da época é um testemunho do talento e da dedicação envolvidos na arte da teledramaturgia.
O legado de “O Clone” e de seus bastidores serve como um estudo de caso valioso para estudantes de comunicação, produtores e entusiastas da televisão. Ele ilustra como a pressão por inovação e a busca por soluções criativas são constantes na indústria. A história do sósia que não se concretizou na tela, mas que se fixou no imaginário coletivo como uma curiosidade, demonstra que nem todo plano sai como o esperado, mas que a arte encontra seus caminhos para se manifestar e encantar o público, independentemente dos percalços. A trajetória da novela, desde sua concepção até sua consagração, é um testemunho da capacidade de superação e adaptação da televisão brasileira.
Portanto, o episódio do concurso, longe de ser um mero contratempo, tornou-se parte intrínseca da rica tapeçaria de “O Clone”, um lembrete de que, por trás das câmeras, há um universo de decisões, desafios e triunfos que moldam as narrativas que chegam aos lares. A novela segue sendo um exemplo notável de como a paixão e o profissionalismo podem transformar um projeto ambicioso em um sucesso estrondoso, cuja ressonância se estende por décadas.
Fonte:
Natelinha – Como um concurso de sósia de Murilo Benício virou piada dentro da Globo. Natelinha

