A busca por um duplo do ator para a novela de 2001 no Domingão do Faustão transformou-se em um dos maiores constrangimentos da história da televisão brasileira.
Em 2001, a Rede Globo promoveu no programa Domingão do Faustão um concurso ambicioso para encontrar um sósia do ator Murilo Benício, estrela da então aguardada novela O Clone. A iniciativa, que visava potencializar a trama e gerar burburinho, acabou por se converter em um fracasso notório e uma fonte de constrangimento para a emissora, pois o vencedor não atendeu às expectativas de semelhança, resultando na sua total não utilização na produção e marcando um episódio que virou anedota lendária nos bastidores da TV brasileira.
Contexto
A virada do milênio trouxe para a teledramaturgia brasileira uma das produções mais icônicas da Rede Globo: a novela O Clone. Exibida entre outubro de 2001 e junho de 2002, a trama de Gloria Perez, com direção de Jayme Monjardim, conquistou o público com sua inovadora abordagem sobre clonagem humana, cultura islâmica e o complexo romance entre Jade (interpretada por Giovanna Antonelli) e Lucas (vivido por Murilo Benício).
O desempenho multifacetado de Murilo Benício, que interpretou não apenas Lucas, mas também seu irmão gêmeo Diogo e o clone Leo, foi um dos pilares do sucesso da novela. A exigência de cenas com os gêmeos juntos, especialmente Lucas e Leo, levou a produção a considerar a inovadora, porém arriscada, ideia de buscar um sósia para o ator, minimizando os custos e as complexidades técnicas da época.
Foi nesse cenário de efervescência e alta expectativa que o Domingão do Faustão, um dos programas de maior audiência da televisão brasileira, entrou em cena. Em maio de 2001, com a proximidade da estreia de O Clone, a atração dominical lançou um concurso nacional para encontrar o duplo perfeito de Murilo Benício. A promessa era de que o vencedor participaria da novela, uma oportunidade que alavancaria a carreira de qualquer aspirante a ator ou modelo.
A Ascensão e a Busca por Duplos na TV
A prática de utilizar sósias não era exatamente uma novidade na televisão, mas a maneira como a Rede Globo conduziu a busca por um duplo de Murilo Benício ganhou contornos únicos. A decisão de transformar a seleção em um evento televisionado, com a participação do público e a exposição dos candidatos, adicionou uma camada de espetáculo que, no fim das contas, contribuiu para a dimensão do seu desfecho inusitado.
A novela O Clone, disponível atualmente no Globoplay, é um testemunho da capacidade da emissora em produzir tramas memoráveis. No entanto, o episódio do concurso de sósia de Murilo Benício representa um dos raros momentos em que a meticulosidade da Rede Globo deu lugar a um equívoco que se tornaria lendário, evidenciando que nem toda ideia “genial” nos bastidores da TV se traduz em sucesso.
A repercussão da época, conforme noticiado pela Folha de S.Paulo em maio de 2001, já indicava a grande expectativa em torno da iniciativa. Contudo, os critérios de seleção e a avaliação final seriam postos em cheque pela própria realidade da semelhança física, ou melhor, pela sua ausência no sósia escolhido, transformando o sonho de muitos em um constrangimento épico para a emissora.
Impactos da Decisão
O que a Rede Globo esperava ser uma jogada de mestre para O Clone, uma forma inteligente de lidar com as exigências de produção e, ao mesmo tempo, gerar engajamento com o público, rapidamente se reverteu. O concurso de sósia de Murilo Benício, grandiosamente apresentado no Domingão do Faustão, culminou em um desfecho que a emissora preferiria apagar de sua história.
A escolha do vencedor foi recebida com surpresa e até incredulidade. A falta de uma semelhança convincente entre o sósia selecionado e o ator Murilo Benício foi notória, tornando impossível o seu aproveitamento nas cenas que exigiam a presença simultânea de Lucas e Leo. O objetivo principal do concurso – ter um dublê crível para o protagonista – foi completamente frustrado, forçando a produção a recorrer a outras técnicas ou a alterar roteiros para contornar a situação.
Revistas especializadas da época não tardaram a criticar a decisão. A revista Istoé Gente, por exemplo, fez duras observações sobre a visível falta de similaridade do escolhido, transformando o que era para ser um auxílio à produção em um “mico” público. A reportagem da Natelinha UOL relembra que esse evento se tornou uma espécie de “piada interna” e uma anedota constante nos corredores da Globo, um lembrete vívido de uma aposta que não deu certo.
O Custo do Constrangimento e a Credibilidade
Embora não existam dados públicos detalhando os custos financeiros exatos do concurso em si, o impacto na credibilidade e na imagem de perfeccionismo da Rede Globo foi inegável. Uma emissora conhecida por sua produção de alta qualidade e por não deixar pontas soltas, viu-se em uma posição embaraçosa diante de seu público e da crítica especializada. A expectativa gerada pelo programa foi inversamente proporcional à qualidade do resultado final, gerando frustração.
O episódio serviu como uma lição valiosa sobre os riscos de transformar processos seletivos importantes em espetáculos midiáticos excessivos. A pressão do ao vivo e a busca por um resultado imediato podem comprometer a objetividade e a eficácia de uma decisão, especialmente quando o fator principal – a semelhança física – é tão crucial e visível. Este constrangimento épico ecoou pelos bastidores, tornando-se uma “lenda” que os mais experientes da televisão brasileira ainda recordam.
A não utilização do sósia vencedor na novela O Clone é a prova mais contundente do insucesso da iniciativa. O investimento em tempo e em exposição no Domingão do Faustão para um resultado nulo na trama principal representa um dos desfechos mais emblemáticos de uma ideia que, no papel, poderia parecer inovadora, mas que na prática se mostrou um equívoco, solidificando sua posição como um dos “micos” históricos da TV.
Próximos Passos
Mais de duas décadas após o ocorrido, o concurso de sósia de Murilo Benício para O Clone persiste na memória coletiva como um dos momentos mais curiosos e embaraçosos da televisão brasileira. Embora não haja “próximos passos” no sentido de desdobramentos futuros para o evento em si, seu legado se manifesta na forma como a história é contada e revisitada por fãs de teledramaturgia e por veículos de comunicação.
O episódio continua a ser um tópico de interesse em discussões sobre nostalgia da televisão e cultura pop dos anos 2000. Para o público-alvo, que inclui fãs de O Clone e entusiastas de bastidores da TV, a história do sósia mal-sucedido adiciona uma camada humana e por vezes cômica à rica tapeçaria da produção televisiva. É uma prova de que, mesmo em produções grandiosas, imprevistos e decisões questionáveis podem ocorrer.
A disponibilidade de O Clone no Globoplay, a plataforma de streaming da Rede Globo, permite que novas gerações descubram a novela e, consequentemente, se deparem com as curiosidades e os “micos” que a cercam. A história do sósia não aproveitado serve como um pano de fundo divertido para o sucesso duradouro da trama, reforçando o interesse em tudo que envolveu a produção, do drama principal às peculiaridades dos bastidores.
A Lenda dos Bastidores da TV
Este “mico” da Globo, como foi amplamente categorizado, garantiu seu lugar nas antologias não-oficiais dos erros e acertos da televisão. Para muitos, a história encapsula a imprevisibilidade do entretenimento ao vivo e das decisões tomadas sob a pressão de uma grande produção. A lenda persiste, lembrando que o glamour da telinha também tem seus momentos de tropeço, que, paradoxalmente, acabam por enriquecer o folclore televisivo.
A constante busca por conteúdo nostálgico e “por trás das câmeras” por parte do público mantém a relevância de histórias como essa. Artigos e vídeos que revisitam “erros históricos da TV” ou “micos da Globo” frequentemente incluem o concurso do sósia de Murilo Benício, perpetuando o debate sobre o que deu errado e como a situação foi manejada. Isso mostra um interesse duradouro em compreender não apenas o produto final, mas também o processo e os desafios enfrentados pelas grandes emissoras.
Em um futuro próximo, enquanto a Rede Globo e outras emissoras continuam a investir em novas tecnologias e métodos de produção, o episódio do sósia de Murilo Benício provavelmente continuará a ser um caso de estudo sobre planejamento, execução e os riscos da exposição pública em projetos de grande escala. Ele é um testemunho de que, mesmo com os melhores esforços, a realidade pode, por vezes, superar a ficção de maneiras inesperadas e até constrangedoras.
Fonte:
Natelinha UOL – Como um concurso de sósia de Murilo Benício virou piada dentro da Globo. Natelinha UOL

