Atividade Econômica Brasileira Recua 0,2% sob o Peso da Taxa Selic de 15%, Maior em Duas Décadas
A atividade econômica brasileira registrou uma retração de 0,2% em setembro, um revés atribuído por economistas à persistente alta da taxa Selic, que atualmente se encontra em 15% ao ano. Este patamar, o mais elevado em duas décadas, tem sido o foco de intensos debates e preocupações no cenário macroeconômico nacional. Especialistas consultados pela Agência Brasil analisam os impactos dos juros elevados e suas implicações para o futuro do país.
Contexto
O cenário econômico brasileiro em setembro de 2023 foi marcado por uma desaceleração notável, que acende um alerta sobre a saúde financeira do país. A retração de 0,2% na atividade econômica, conforme apurado, reflete diretamente as condições desafiadoras impostas por uma política monetária restritiva, cujos efeitos se tornam cada vez mais palpáveis para empresas e consumidores em todo o território nacional. Essa queda representa um ponto de inflexão na trajetória de recuperação pós-pandemia, indicando a força com que as decisões do Banco Central reverberam.
A principal protagonista desse panorama é a taxa Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, elevada a impressionantes 15% ao ano. Este índice não é apenas um número, mas um poderoso instrumento do Banco Central para controlar a inflação. Contudo, ao atingir seu maior patamar em vinte anos, a Selic também impõe um custo significativo à atividade produtiva, encarecendo o crédito e desestimulando tanto o consumo quanto os investimentos. A elevação gradual e consistente dessa taxa ao longo dos últimos ciclos econômicos culminou neste nível, buscando frear a escalada inflacionária, mas gerando efeitos colaterais na expansão econômica.
A consulta a renomados economistas pela Agência Brasil revelou um consenso predominante de que os juros elevados são o principal entrave para um crescimento mais robusto. As análises de Douglas Elmauer, professor de Economia do Mackenzie Alphaville, e Euzébio Sousa, economista e pesquisador, convergem ao apontar que o custo do dinheiro, quando caro, inibe a tomada de risco e a expansão de negócios. Este panorama é crucial para compreender não apenas o porquê da retração de setembro, mas também os desafios que se apresentam para os próximos meses.
O que é a Taxa Selic e seu Impacto
A Taxa Selic, ou Sistema Especial de Liquidação e Custódia, é a taxa básica de juros da economia. Ela serve como referência para todas as demais taxas de juros do país, influenciando o crédito ao consumo, empréstimos empresariais e investimentos. Quando o Banco Central eleva a Selic, o objetivo principal é conter a inflação, tornando o crédito mais caro e desestimulando o consumo e a produção. Em contrapartida, uma Selic alta atrai investidores para títulos públicos, que se tornam mais rentáveis.
Impactos da Decisão
Os juros elevados decorrentes da taxa Selic de 15% exercem um efeito direto e profundo sobre a economia. Para o professor de Economia do Mackenzie Alphaville, Douglas Elmauer, e o economista e pesquisador Euzébio Sousa, a principal consequência é o freio no consumo e nos investimentos. “Juros elevados desestimulam o consumo e os investimentos por parte das empresas, tornando o crédito mais caro e reduzindo a capacidade de compra das famílias e a expansão dos negócios”, explicou Elmauer, em declaração à Agência Brasil, sintetizando o sentimento generalizado no mercado financeiro e corporativo.
O cenário de crédito caro afeta diretamente o bolso do consumidor. Com as taxas de juros de empréstimos, financiamentos e cartões de crédito em patamares elevados, o poder de compra da população é drasticamente reduzido. Muitas famílias postergam ou cancelam a aquisição de bens duráveis, como veículos e imóveis, e até mesmo de produtos de consumo rotineiro, impactando negativamente setores como o varejo e a indústria de bens de consumo. A decisão de comprometer parte da renda com juros torna-se um fardo pesado, limitando a circulação de capital.
No ambiente corporativo, a realidade não é diferente. Empresas de todos os portes enfrentam um custo de capital mais alto, o que dificulta a obtenção de recursos para expansão, modernização ou até mesmo para a manutenção de suas operações. Investimentos em maquinário, tecnologia e novas fábricas são adiados, resultando em menor geração de empregos e menor capacidade produtiva. A falta de estímulo ao investimento pode criar um ciclo vicioso de estagnação, onde a ausência de crescimento hoje compromete o potencial futuro. Os especialistas ressaltam que esta desaceleração se manifesta em diversos segmentos econômicos, de maneira transversal.
Desafios para Setores Chave
Diversos setores da economia sentem os efeitos mais agudos dessa política monetária. O setor imobiliário, por exemplo, é fortemente impactado pela dificuldade de acesso a financiamentos com taxas atrativas. A indústria automobilística também sofre com a retração no consumo de bens duráveis. Pequenas e médias empresas, que dependem mais de crédito para o capital de giro, enfrentam um desafio ainda maior para manter suas portas abertas e competir no mercado, muitas vezes levando a ondas de demissões ou a um congelamento nas contratações.
Próximos Passos
Diante do panorama de retração, as projeções para o futuro se dividem entre a cautela e um otimismo moderado. A economista Daniela Cardoso, por exemplo, oferece uma perspectiva um pouco diferente. Embora reconheça a influência da Selic, ela vê a queda na atividade econômica como um evento pontual. “Acredito que a queda é pontual e o cenário para 2024 aponta para uma redução da taxa Selic, o que deve impulsionar a economia”, afirmou Cardoso, sugerindo que o pior pode ter passado e que há espaço para uma recuperação no médio prazo, ainda que não imediata.
A projeção de Daniela Cardoso para a taxa Selic em 12% para 2024 sinaliza uma expectativa de alívio na política monetária. Se concretizada, essa redução nos juros básicos poderia reaquecer o mercado de crédito, estimulando novamente o consumo e o investimento. A trajetória do Banco Central será crucial, balanceando a necessidade de controlar a inflação residual com o desejo de evitar uma recessão prolongada. Os olhos do mercado e dos analistas estarão voltados para as próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), aguardando sinais de flexibilização.
Ainda assim, a recuperação não é vista como linear ou garantida. A inflação, embora em desaceleração, continua sendo uma preocupação, e fatores externos, como a volatilidade dos mercados globais e as tensões geopolíticas, podem adicionar complexidade ao cenário. A interação entre as políticas fiscal e monetária do governo será fundamental para criar um ambiente de maior estabilidade e previsibilidade para os agentes econômicos, incentivando a confiança e, consequentemente, o investimento e a geração de riqueza. A capacidade de harmonizar esses elementos será decisiva.
Perspectivas para o Crescimento
O debate em torno da Selic e seus efeitos continua intenso. Enquanto alguns economistas defendem a manutenção de juros altos por mais tempo para consolidar o controle da inflação, outros argumentam que a política monetária já atingiu seu ápice e que é hora de priorizar o crescimento. O Banco Central tem um papel delicado de comunicação e gestão de expectativas para garantir que suas decisões sejam compreendidas e absorvidas pelo mercado, minimizando incertezas e contribuindo para um ambiente econômico mais favorável e previsível nos próximos ciclos de investimentos e consumo.
Fonte:
Agência Brasil – Selic alta afetou negativamente atividade econômica, dizem economistas. Agência Brasil

