Setor cafeeiro brasileiro sofre queda brusca nas exportações para os EUA em meio a tarifas elevadas, enquanto concorrentes desfrutam de taxas zeradas, impactando US$ 4,6 bilhões
As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos enfrentam um novo capítulo de incerteza após o ex-presidente americano Donald Trump, em declaração feita em 15 de novembro de 2025, reiterar a manutenção das altas tarifas de importação sobre produtos brasileiros. A decisão, que frustra expectativas de flexibilização, contrasta diretamente com a posição do vice-presidente brasileiro e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, que prometeu continuar buscando a redução dessas taxas e a correção de distorções no mercado. Este cenário impacta negativamente a competitividade do Brasil e, de maneira alarmante, afeta cerca de US$ 4,6 bilhões em exportações brasileiras, com destaque para a queda expressiva das vendas do café brasileiro para o mercado americano, onde produtores de outros países já se beneficiam de tarifas zeradas.
Contexto
A imposição de tarifas elevadas pelos Estados Unidos sobre determinados produtos brasileiros não é um fenômeno recente, mas se intensificou durante a administração de Donald Trump, refletindo uma política comercial de protecionismo batizada de America First. Essa abordagem visava resguardar a indústria e os empregos americanos, por vezes resultando em barreiras tarifárias que afetavam diretamente parceiros comerciais, incluindo o Brasil. A declaração de Trump, feita em um momento de articulações políticas e discussões sobre o futuro das relações comerciais globais, reforça a permanência dessas sobretaxas e indica que novas reduções, além das já anunciadas anteriormente, não estão nos planos do ex-presidente.
Historicamente, a pauta de exportações brasileiras para os EUA é diversificada, abrangendo desde commodities agrícolas até produtos manufaturados. No entanto, setores específicos, como o cafeicultor, sentiram de forma mais aguda o peso dessas barreiras. Enquanto o Brasil, um dos maiores produtores e exportadores de café do mundo, enfrenta essas tarifas, outros países competidores têm acesso ao mercado americano com taxas de importação zeradas. Essa disparidade cria uma desvantagem competitiva significativa, prejudicando o fluxo comercial e a rentabilidade dos produtores brasileiros.
Diante desse quadro, a reação do governo brasileiro, personificada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, tem sido de ressaltar a necessidade de diálogo e persistência. Alckmin tem enfatizado a importância de corrigir as que ele classifica como distorções comerciais que afetam o Brasil. As declarações do vice-presidente indicam uma estratégia contínua de negociação para reverter o cenário atual, buscando um tratamento mais equitativo para os produtos brasileiros no mercado americano, que é um dos principais destinos das exportações do país.
Diplomacia Econômica e Entidades Envolvidas
O esforço para mitigar os impactos das tarifas americanas envolve não apenas o governo federal, mas também importantes entidades setoriais. O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) têm atuado na representação dos interesses dos produtores e exportadores brasileiros, fornecendo dados e análises que subsidiam as negociações e demonstram os prejuízos decorrentes das tarifas.
Essas organizações são cruciais na articulação de argumentos técnicos e econômicos que visam sensibilizar as autoridades americanas e brasileiras para a urgência de resolver a questão. A apuração jornalística destas informações se baseia em declarações oficiais de figuras como Donald Trump e Geraldo Alckmin, além de relatórios e comunicados emitidos por essas entidades, garantindo a credibilidade e a autoria dos dados apresentados.
Impactos da Decisão
A reiteração da política tarifária por parte de Donald Trump projeta uma sombra sobre as perspectivas de exportação brasileira para os Estados Unidos. O impacto mais evidente e preocupante recai sobre o setor cafeeiro. Segundo dados preliminares, a persistência das tarifas elevadas tem contribuído para uma queda brusca nas exportações de café brasileiro para o mercado americano. Enquanto produtores de países concorrentes desfrutam de tarifas zeradas, o café do Brasil torna-se menos competitivo em preço, dificultando sua colocação e expansão de mercado nos EUA.
Essa disparidade tarifária não só reduz o volume de vendas, mas também comprime as margens de lucro dos exportadores brasileiros, forçando-os a repensar estratégias e, em alguns casos, a buscar novos mercados ou a operar com menor rentabilidade. A situação é agravada pelo fato de os EUA serem um dos maiores consumidores de café do mundo, representando um mercado estratégico para o agronegócio brasileiro. A perda de espaço nesse segmento é um revés significativo para a economia nacional.
Além do café, a política tarifária afeta um espectro mais amplo de produtos brasileiros, contribuindo para o impacto total de US$ 4,6 bilhões em exportações. Este montante representa não apenas a perda de receita para as empresas, mas também uma redução na geração de empregos, no desenvolvimento de cadeias produtivas e na arrecadação de impostos no Brasil. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem alertado para o enfraquecimento da indústria exportadora brasileira, que depende de mercados abertos e condições equitativas de comércio para prosperar.
Competitividade e Cenário Global
A questão das tarifas vai além do aspecto financeiro; ela toca na essência da competitividade brasileira no cenário global. Quando produtos de outros países entram no mercado americano sem sobretaxas, e os produtos brasileiros enfrentam barreiras, a percepção de valor e a capacidade de competir em igualdade de condições são diretamente comprometidas. Isso desestimula investimentos na capacidade exportadora e pode levar a uma reconfiguração das cadeias de suprimentos globais em detrimento do Brasil.
A busca por correção de distorções, como defendido por Alckmin, é fundamental para garantir um campo de jogo nivelado no comércio internacional. A falta de reciprocidade tarifária pode ser interpretada como uma barreira não-alfandegária disfarçada, que desfavorece o Brasil e impede o pleno potencial de sua balança comercial com os Estados Unidos.
Próximos Passos
Diante do posicionamento de Donald Trump, o governo brasileiro, liderado por Geraldo Alckmin, reafirma seu compromisso em persistir nas negociações para a redução das tarifas de importação e a eliminação das distorções que afetam as exportações brasileiras. A diplomacia comercial será o principal instrumento de ação, com a expectativa de que o diálogo contínuo possa abrir caminhos para soluções que beneficiem ambos os países. As mesas de negociação, tanto em caráter bilateral quanto em fóruns multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), podem ser acionadas para buscar um acordo.
No cenário interno, o setor produtivo brasileiro, por meio de suas associações como Cecafé e BSCA, continuará mobilizando esforços para munir o governo com informações e argumentos que demonstrem o impacto negativo das tarifas e a urgência de uma mudança. Campanhas de conscientização e a busca por apoio de parlamentares e influenciadores nos Estados Unidos também podem fazer parte da estratégia para pressionar por uma revisão da política tarifária. A resiliência do agronegócio brasileiro será testada, mas a busca por diversificação de mercados e aprimoramento da qualidade dos produtos são alternativas que sempre estão sobre a mesa.
O futuro das tarifas EUA-Brasil estará intrinsecamente ligado aos desdobramentos políticos em ambos os países. Uma eventual mudança na administração americana ou um novo contexto de negociações globais podem abrir janelas de oportunidade para o Brasil. Enquanto isso, a vigilância e a proatividade do governo e do setor privado brasileiros serão cruciais para minimizar os prejuízos e manter a esperança de um comércio mais justo e equilibrado. A data de 15 de novembro de 2025, na qual a declaração de Trump foi feita, marca um ponto de virada que exige uma resposta estratégica e coordenada do Brasil.
Estratégias de Mitigação e Expectativas
Para mitigar os efeitos das tarifas, os exportadores brasileiros podem explorar rotas alternativas de comercialização, focar em nichos de mercado nos EUA que sejam menos sensíveis a preços, ou investir na diferenciação de seus produtos. A busca por acordos bilaterais ou a participação em blocos comerciais que ofereçam vantagens tarifárias também são opções. A expectativa é que, apesar do endurecimento da posição de Trump, o governo brasileiro consiga, no médio e longo prazo, pavimentar o caminho para a eliminação dessas barreiras, visando restabelecer a plena competitividade do Brasil no mercado americano.
O diálogo com os importadores e distribuidores americanos, que também podem ser afetados pela menor oferta de café brasileiro, por exemplo, pode ser uma tática para gerar pressão interna nos EUA por uma revisão das tarifas. A manutenção de um canal aberto de comunicação com as autoridades americanas é vital para monitorar os cenários e ajustar as estratégias brasileiras conforme as dinâmicas políticas e econômicas evoluem.
Fonte:
O Globo – Trump diz não ver espaço para nova redução de tarifas, mas para o Brasil distorção persiste. O Globo

